05/09/2024 às 11h30min - Atualizada em 05/09/2024 às 11h30min

Derivados de Cana-de-açúcar: a tradição de fabricar melado batido

Produto de qualidade, sem conservantes e benéfico à saúde

Vandro Welter
Jornal Força d'Oeste
Vandro Welter
A produção do melado batido a partir da cana-de-açúcar é uma tradição cultural presente na agricultura familiar da região. Uma forma diferente de produzir esse alimento que o torna tão especial e saboroso.
Além de ser 100% natural, é rico em ferro, cálcio, magnésio e cobre. Ajuda, por exemplo, a prevenir a anemia e contribui para a saúde dos ossos, da pele e do cabelo. Contém também selênio, um eficiente antioxidante.
Produtos orgânicos e com processos de fabricação mais naturais atraem o paladar de muitos consumidores. Entre esses produtos estão os derivados da cana-de-açúcar, como a rapadura, chimia, puxa-puxa, açúcar mascavo e o melado.
Um exemplo vivo da manutenção dessa tradição cultural vem da propriedade do casal, Ivo e Maria Anschau, de La. Ervalzinho/São João do Oeste. Com uma área total de aproximadamente 24 hectares, cerca de 1,5 hectare são destinados ao cultivo da cana-de-açúcar.
Segundo o agricultor, Ivo Anschau, a produção artesanal de melado batido destina-se ao consumo próprio e o excedente é distribuído para pessoas próximas da família, filhas, vizinhos, amigos e eventuais visitantes. “Hoje são bem menos famílias que atuam na produção de melado. Estou seguindo a tradição familiar na produção de melado que vem desde os meus avós quando ainda residiam no RS. Eu e minha esposa Maria aprendemos cedo, quando ainda éramos crianças e os pais nos ensinaram essa técnica”, explica.
As duas filhas do casal atualmente residem em Indaial/SC, mas também aprenderam a lidar com a produção de melado, quando ainda moravam em casa. Essa tradição passou de geração em geração, sendo que Maria possui mais 11 irmãos e a família de Ivo era constituída por mais sete irmãos.
O casal de agricultores aposentados, Ivo e Maria, também adotaram esse hábito da produção de melado como um hobby. Além disso, mantêm alguns terneiros para engorda, duas vacas e aproximadamente 100 galinhas, sendo que os ovos são comercializados, proporcionando pequenas rendas adicionais.
 
A PRODUÇÃO DO MELADO
Ivo Anschau explica que neste ano começou a produção de melado um pouco mais cedo do que em anos anteriores. “No ano passado não houve geada e a cana-de-açúcar já estava madura o suficiente. Mas normalmente produzimos melado nos meses de junho, julho e agosto”, comenta.
Anschau explica que precisa de aproximadamente duas horas para cortar a cana e levá-la até as instalações na propriedade. Também leva em torno de 40 minutos para moer a cana.
“Levo aproximadamente cinco horas para finalizar todo o processo. Em um tacho produzo 40 quilos de melado. Para isso preciso de 12 latas de guarapa (caldo de cana). A variedade de cana também influencia porque tem as que rendem mais. Possuo uma variedade de cana bem antiga que rende mais e torna o produto de ótima qualidade”, pontua.
Outro segredo é a qualidade da lenha utilizada no processo de cozimento do caldo de cana. “Tenho lenha que já está estocada há cinco anos, estando bem seca. A qualidade influencia porque gasta menos lenha e tem-se mais fogo. Quando tiro o tacho do fogo começamos a bater o melado por uns 40 minutos para atingir o ponto ideal”, enumera.
O casal reside na divisa entre as comunidades de La. Ervalzinho/SJO e La. Dourado/Itapiranga. A propriedade fica ao lado da estrada geral que liga as localidades. “Às vezes tem pessoas que nos visitam para experimentar o caldo de cana. Passam na estrada e veem o bagaço da cana. Fazemos questão de receber muito bem a todos. O canavial fica ali próximo, o que também facilita para que ninguém deixe de ser atendido, podendo experimentar um caldo de cana produzido na hora”, explicam o casal.
Ivo e Maria sentem satisfação em produzir alimentos orgânicos, sem uso de conservantes e que consideram ser de qualidade.
No campo profissional de industrialização, várias agroindústrias familiares da região deixaram de existir nos últimos anos devido ao elevado número de exigências. Elas sucumbiram após enfrentar uma verdadeira batalha com os órgãos fiscalizadores para poder manter as portas abertas e fazer o que sabem melhor: produzir alimentos.
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