15/08/2024 às 14h39min - Atualizada em 15/08/2024 às 14h39min

Gerência Regional da Epagri esclarece dúvidas sobre o Programa Leite Bom

Luane Diehl - Jornal Força d'Oeste
Elvys Taffarel, Engenheiro Agrônomo e responsável pelas Políticas Públicas da Epagri regional de São Miguel do Oeste, concedeu uma entrevista para nossa equipe, esclarecendo dúvidas sobre o Programa Leite Bom. A Epagri de SMO engloba vários municípios da região, incluindo Iporã do Oeste, Itapiranga, Mondaí, Santa Helena, São João do Oeste e Tunápolis.
Conforme Elvys conta, o Programa Leite Bom surge como uma iniciativa estadual com o objetivo de intervir na cadeia produtiva do leite, especialmente diante dos desafios impostos pelo baixo preço do produto no mercado rural. “A região do Grande Oeste catarinense concentra a maioria dos produtores de leite, com o Extremo Oeste se destacando como um grande polo produtor. A relevância dessa atividade econômica torna crucial o desenvolvimento de políticas públicas que beneficiem os produtores e fortaleçam a produção leiteira”, destaca.
Sobre as linhas gerais do programa, Elvys informa que ele apresenta linhas de financiamento próprio no Estado, disponibilizando recursos financeiros para investimentos. As principais características são:
- Financiamento próprio: produtores podem obter até R$ 40 mil em financiamento, com desconto de 30% nas parcelas. O prazo é de 5 anos, sem juros;
- Apoio de juros: para produtores do Pronaf e Pronamp, há uma linha de apoio com até 5 pontos percentuais ao ano. O valor máximo é de R$ 100 mil por família, com prazo de até 8 anos. O Estado subsidia os juros, tornando a taxa atrativa.
Para a safra 2024/2025, o Programa Leite Bom conta com um volume de R$ 150 milhões. Espera-se atender mais de 7 mil produtores em todo o Estado. “O programa já está em fase operacional e os produtores interessados devem procurar os escritórios locais da Epagri para encaminhar seus projetos de financiamento. Alguns municípios estão adaptando as regras para melhor implementação do programa, sempre alinhados às normas da Secretaria de Estado da Agricultura”, ressalta o Engenheiro Agrônomo.
 
O PAPEL DA EPAGRI
A EPAGRI é a executora dos programas da Secretaria de Estado da Agricultura, garantindo que as ações cheguem efetivamente aos produtores rurais. Ela orienta os produtores sobre os programas disponíveis, os requisitos e os procedimentos para acessar os benefícios. “Além da parte burocrática, a EPAGRI oferece orientação técnica aos produtores. Essa assistência é tão importante quanto o próprio financiamento, pois auxilia na tomada de decisões, no manejo adequado e na otimização dos recursos”, pontua Elvys.
Conforme ele explica, além do suporte financeiro, o Programa Leite Bom visa ações como a suspensão dos incentivos à importação de leite em pó. Essas medidas fortalecem a produção local e beneficiam diretamente os produtores. No entanto, a demanda e os recursos disponíveis ainda estão em processo de avaliação. “Historicamente, o Estado tem buscado suplementar as linhas de apoio, mesmo que, em casos específicos, os recursos possam ser insuficientes. Caso haja necessidade, o Estado oferecerá outras linhas de apoio aos produtores rurais. Essas alternativas podem incluir subvenção de juros ou financiamento próprio. O objetivo é garantir que os produtores tenham acesso a suporte financeiro adequado para suas atividades”.
Segundo informações repassadas pela Epagri, para acessar o financiamento direto no Estado, o produtor deve atender aos seguintes critérios: o produtor deve estar enquadrado no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar); ser produtor de leite; para a linha de apoio de juros, o produtor também deve estar no Pronaf ou Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural), com predominância de renda proveniente da atividade agropecuária.
Além do Programa Leite Bom, Elvys informa que existem outras opções de recursos financeiros para o setor leiteiro:
- Linha financiar: produtores podem obter financiamento em até 5 anos, sem juros;
- Linha de apoio à água: destinada aos produtores da linha Pronaf, essa linha oferece até 50% de desconto nas parcelas para investimentos em armazenamento e tratamento de água;
- Apoio bancário: produtores não vinculados ao Pronaf podem acessar essa linha, com prazo de até 8 anos e apoio de 3 pontos percentuais na taxa de juros;
- Armazenamento de grãos: linhas específicas para financiamento e armazenamento de grãos, incluindo silos e secadores.
 
DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA PECUÁRIA DE LEITE
 
Entrevista com o Engenheiro Agrônomo Jonas Marcelo Ramon
 
Conversamos com Jonas Marcelo Ramon, Engenheiro Agrônomo especializado em pecuária de leite e corte da Epagri regional, com cede em São Miguel do Oeste. Com vasta experiência no setor, ele analisou os desafios enfrentados pelos produtores e as perspectivas para o futuro.
 
Tendências de preços
Segundo Jonas, o preço médio regional pago ao produtor de leite está atualmente em R$2,63 por litro. “Essa variação de 20 a 30 centavos para cima ou para baixo reflete fatores como quantidade produzida e qualidade, especialmente em relação aos sólidos e características microbiológicas. O aumento recente, após um verão com preços mais baixos, é típico do inverno, impulsionado pelo aumento do consumo e pela queda na produção no Centro-Oeste”, destacou.
 
Desafios financeiros
Conforme o Engenheiro Agrônomo, os custos de produção são um dos principais desafios para as propriedades leiteiras. “Muitos produtores não acompanham adequadamente os custos de alimentação, incluindo concentrados, silagem, pré-secado e feno. Além disso, a depreciação e o custo de oportunidade podem inviabilizar a atividade, chegando a R$2,50 por litro produzido”.
Jonas enfatiza a importância da assistência técnica especializada. Acompanhamento nutricional regular e ajustes nas dietas são fundamentais. Além disso, a gestão eficiente é essencial. Ele ressalta que muitas propriedades carecem de conhecimento sobre custos, mão de obra e administração.
 
Resiliência dos agricultores
Apesar dos desafios, os agricultores são resilientes e persistentes. Aqueles que buscam capacitação e eficiência conseguem sustentar suas atividades. Jonas destaca que o lucro está na compra, não na venda, e que o conhecimento é a chave para enfrentar crises e garantir a viabilidade do setor. “Os agricultores têm feito investimentos, aproveitando as taxas de juros favoráveis. A busca por eficiência e a visão de longo prazo são essenciais para o crescimento sustentável da pecuária de leite”, pontua.
 
Expectativas para o setor
Jonas aponta que a expectativa é de baixa, considerando o decréscimo da renda média dos brasileiros em relação ao consumo de alimentos. Produtos lácteos, como leite, queijo e iogurte, têm demanda elástica: quanto maior a renda, maior o consumo. No entanto, o cenário atual indica que o percentual da renda destinado à alimentação está aumentando, levando a escolhas por alimentos de menor valor. A produção no Centro-Oeste também influencia, e os produtores devem focar em eficiência e retorno sobre o capital investido.
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